A CONFIGURAÇÃO DE FORÇAS NA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: PROBLEMATIZAÇÕES FOUCAULTIANAS

Autores

  • Eneida Silveira Santiago Universidade Estadual de Londrina - UEL
  • Silvio Yasui Unesp - Assis

Palavras-chave:

Saúde Mental, Saúde Coletiva, Genealogia, Trabalho, Subjetividade, Intersetorialidade

Resumo

Investigamos neste texto, a partir das contribuições foucaultianas para a genealogia do saber, a constituição histórica da articulação entre atividades de Trabalho e Atenção em Saúde Mental (chamadas de Oficinas Terapêuticas, entre outros nomes) em seus diversos propósitos e dimensões que contribuíram para a produção do cuidado do portador de sofrimento psíquico em diferentes momentos. A História é aqui compreendida como uma multiplicidade (e não linearidade) de tempos e séries diversas que misturam-se e embaralham-se formando discursos proferidos como verdades. Na articulação que aqui discutimos, concluímos que o Trabalho como modalidade terapêutica nas instituições asilares, não surgiu no universo da psiquiatria, mas do capitalismo. Associado às medidas de ocupação de “mentes vazias” dos desajustados, mais tarde ganhou a posição de instrumento de disciplina e normatização social. Com a Reforma Psiquiátrica, as atividades de Trabalho na Saúde Mental foram re-inventadas como espaços possibilitadores de acesso à cidadania e contratualidade social dos usuários da rede.

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Publicado

18/06/2014

Como Citar

Santiago, E. S., & Yasui, S. (2014). A CONFIGURAÇÃO DE FORÇAS NA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: PROBLEMATIZAÇÕES FOUCAULTIANAS. Revista OMNIA Saúde, 10(2), 59–81. Recuperado de https://omnia.ojsbr.com/omniasaude/article/view/398

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